12 de março de 2014

EVANGÉLICO FERVOROSO E RESERVADO: O IRMÃO FRED DENTRO DA IGREJA

Fred não é pontual, prefere ser precavido. Chega com antecedência de 24 minutos. Veste-se de forma discreta: sapatos, calça e camiseta polo pretas. A bíblia, carregada pela mão esquerda, chama atenção só para quem é de fora. Afinal, foge à regra da imagem do centroavante do Fluminense e da Seleção que rodou o país através de um vídeo na internet, onde aparece beijando uma desconhecida no meio de uma avenida em Belo Horizonte, no ano passado. A presença na Igreja, no entanto, diz muito sobre a nova fase do jogador, embora não seja capaz de fazê-lo notado ao entrar na sede da Comunidade Evangélica Internacional da Zona Sul (Ceizs), no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro. 
fred fluminense  instagram camisa igreja (Foto: Reprodução )Ele caminha sem ser abordado com pedidos de fotos ou autógrafos. Gritos femininos? Choros desesperados por atenção? Apelo de pais por um agrado aos filhos? Nada. O que é comum em treinos e jogos, seja do Tricolor ou do Brasil, inexistem na igreja. Por cerca de 100 metros até sentar na sexta fileira de cadeiras acolchoadas, mantém o olhar ao altar. Lá acontece o culto que passou a frequentar rotineiramente em janeiro. A cargo do pastor Marco A. Peixoto, o tema abordado na ocasião foi "o Rio de Janeiros sob trevas". Especificamente: os efeitos, no entender dele, negativos do Carnaval.   
Passar praticamente despercebido não impede que um homem se aproxime de Fred. Não é fã. Sim, um irmão de culto. Os dois conversam. O atleta desliga o celular. E rumam à primeira fila. Ficam perto do altar que, antes da pregação, é tomado por uma banda de música gospel. O camisa 9 canta. Sabe as letras de cor. Se mexe como quem quisesse dar uns passinhos – algo feito por todos os cerca de 5 mil presentes. Ele está pronto para o que está por vir.   
O GloboEsporte.com acompanhou a reunião da Ceizs na última segunda-feira. E, a seguir, relata como é Fred dentro da igreja. A partir das 19h30m, ele se revelou ainda um evangélico fervoroso. Irmão que canta, presta atenção à pregação, reza e praticamente fecha a igreja, já que só foi embora após conversar com dois pastores em particular por quase 50 minutos, quando o local já estava vazio.
FRED OU, SIMPLESMENTE, IRMÃO
Entrar na sede da Ceizs dá a impressão de se estar em uma enorme sala de cinema - antes de virar igreja, o prédio de número 72 na Praia do Flamengo era um local de exibição de filmes. O ambiente é amplo. Tem banheiros, masculino e feminino (este geralmente com filas), bebedores, ar-condicionado central, circuito interno de TV. Tudo controlado por funcionários e seguranças. Há, ao lado, um estacionamento, onde Fred deixou a sua caminhonete BMW após treinar nas Laranjeiras.
O "aparato de show" causa inveja. São duas câmeras, uma posicionada naquela grua que a torcida se acostumou a ver atrás dos gols nas transmissões de jogos, e um ensurdecedor sistema de som: bateria, guitarra e demais equipamentos musicais. Sem falar na iluminação e de um telão dignos de casas de espetáculo.   
- Ele andou meio sumido nos últimos tempos, mas desde janeiro passou a frequentar de novo. Sempre vem sozinho. Senta na primeira fila. É um irmão exemplar: vem com bíblia em mãos, canta e faz as orações - diz uma frequentadora do local.   
Se as pessoas não o abordam, ao menos falam dele. Antes de o culto começar, foi possível perceber que Fred era assunto. Um grupo de jovens, ao falar de uma pelada disputada entre eles, logo lembrou do centroavante.   
- Será que ele vem hoje (segunda-feira)?   
- Claro, é nosso amigo. Vai aparecer, pode apostar. Ele se converteu e deixou Jesus entrar na sua vida - apostou um deles.   
Os fiéis não sabem o motivo de Fred ter entrado para a igreja. Não especulam se foram as lesões: sofreu uma na coxa direita em 2013, que o afastou por quase cinco meses dos gramados, e este ano teve outra no mesmo local, que o impediu de disputar o clássico contra o Flamengo no Campeonato Carioca. Ou se é a falta de gols: tem dois apenas na atual temporada. Aliás, dizem que não existe motivo para "ter Jesus". E não o veem como jogador.   
- Aqui, ele é mais um. E nós, juntos, formamos uma família. Não nos interessa o jogador Fred, mas o irmão Fred - filosofa outro presente ao evento.   
Há quem o defenda também. Recentemente, perguntado sobre Fred frequentar a igreja, o treinador Renato Gaúcho duvidou da informação. Disse não acreditar que o camisa 9 é um atleta de Cristo.   
- Foi um deboche. Renato fala sem saber, sem conhecer. Deveria vir aqui e ver como funciona... - defendeu um dos participantes.   
Fred já o fez: conheceu e gostou. Só não quis comentar o hábito com a reportagem.   
- Ele é reservado, não gosta de exposição demasiada. Assuntos pessoais como família, filha... Nem levo a ele. Ele gosta de se preservar. Ele frequenta a igreja desde cedo. Só veio à tona agora - disse Francis Melo, assessor de imprensa pessoal de Fred desde os tempos de América-MG, no início da carreira.
O CULTO: CONTRA CARNAVAL, A FAVOR DA BÊNÇÃO
Às 19h30m, o telão deixar de exibir a mensagem "2014, um ano de bênçãos impossíveis" e mostra um ministro da igreja tomando o centro do altar. É o sinal de que vai começar. A primeira frase dele:   
- Irmãos, todos jejuaram?   
Os evangélicos encaram o jejum no sentido bíblico literal, uma forma de "matar a carne". Pelo entendimento, ao fazê-lo, se fortalece o espírito, vencendo motivações egoístas e, desta forma, aproximando-se mais de Deus. O jejum pode ser a abstinência não só de alimentos e líquidos, mas de qualquer objeto ou hábito que tenha se tornado "indispensável" – o que deve ser o caso de Fred, já que um atleta não pode deixar de se alimentar.   
O modo de se jejuar no meio evangélico é acompanhado de oração e leitura da bíblia. A crença é de que isto aumenta a resistências às tentações carnais. Foi o que pregou o pastor no sermão. Antes, porém, houve espaço à música. Gospel, claro.   
O hit religioso "Basta uma palavra do meu Deus" abriu o louvor. Todos ficaram de pé. Cantaram, bateram palmas, ensaiaram pulinhos e passinhos. Fred, idem. E fez um gesto característico na comemoração dos seus gols: levantou as mãos e, com os indicadores erguidos, apontava em direção ao céu. Em todo instante em que a letra mencionava Deus.   
Pois a pregação começou. O pastor leu trechos da bíblia. Citou a passagem em que Paulo e Silas foram presos por levar a palavra de Deus. Fez referência ao carnaval, época em que, segundo ele, se abusa do álcool.   
- As pessoas fazem coisas que antes não faziam. Bebem exageradamente. Até se beijam em meio ao lixo! O Rio de Janeiro viveu sob trevas. Só a palavra de Deus, irmãos, pode nos salvar. Aleluia!   
À medida que falava, os irmãos gritavam "Jesus", "aleluia", "amém". Fred, idem. O ponto alto foi quando o pastor pediu que cada um abraçasse o irmão do lado e rezasse por ele. O barulho foi superior às músicas. As pessoas gritavam, choravam. Durou mais de dez minutos.   
E o dízimo? Quase sem anunciar, o pastor pede a contribuição. Funcionários da igreja passam pelas filas com sacolas pretas. Recolhem as doações. Há de tudo: notas de R$ 2 e de R$ 100. A verdade é que as bolsas voltam cheias.   
Perto do fim, o pastor disse ao público que a "palavra vai mudar a sua história". No caso de Fred, quem sabe, com mais um ano de sucesso no Fluminense e na Seleção. Afinal, a Copa do Mundo está aí.
A CONVERSA, A FÉ E A IGREJA
Enquanto os fiéis iam embora, Fred subiu ao altar. Eram 21h. Conversou com o pastor de pé. Depois, com outro homem, sentou para falar. Ficou 48 minutos até ir embora. No trajeto em direção à rua, foi reconhecido por uma criança. Ela acenou. Ele acenou de volta. E riu. 
Enquanto aguardava pelo seu carro no estacionamento ao lado da igreja, os vendedores ambulantes aproveitavam para lucrar. Havia pipoca, milho e van de lanches.   
- Eles saem com fome. Dá para fazer um dinheirinho - disse um deles.
Apesar de não gostar de falar sobre o assunto, Fred não faz questão de esconder seu lado religioso. Recentemente, até apareceu no treino do Flu nas Laranjeiras com uma camisa da igreja, que continha a mensagem: "Alegria verdadeira só com Jesus".
A reportagem tentou sem sucesso conversar com o pastor Marco A. Peixoto. Ele comanda uma igreja cuja missão segue os seguintes princípios: influenciar, prosseguir, crer e sonhar. Está presente ainda na Barra da Tijuca, Campo Grande, Volta Redonda e Nova Iguaçu, no Rio. Nos últimos dois anos, o ministério chegou às cidades de São Paulo, Foz do Iguaçu e Curitiba. Fora do Brasil, há representação na Europa e Estados Unidos.    
Seus livros falam de edificação e guerra espiritual, entre eles: "Vencendo as Guerras Invisíveis", "Rompendo em Fé", "Marca de Cristo", "Restituição", "Fé que Opera Milagres", "Quebrando a Mentalidade de Gafanhoto" e "Caminho de Milagres". Um dos destaques do ministério do pastor é o "evangelismo criativo": bloco evangélico nas ruas do Rio durante o Carnaval, tendas de oração na praia de Copacabana em meio ao Réveillon e os shows na Apoteose.
Fonte: globoesporte.com

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