Zé Carlos começou tarde para o futebol. No início de 1997, aos 28 anos, o então lateral-direito vivia a triste rotina de grande parte dos jogadores no Brasil: desempregado, perambulava por clubes do interior paulista em busca de uma oportunidade de aparecer para os grandes. Em dois anos, no entanto, a vida do desconhecido lateral – famoso por imitar animais na concentração – virou de pernas para o ar. Campeão da Série A2 do Campeonato Paulista na Matonense, chamou a atenção do técnico Darío Pereyra no São Paulo e já levantou a taça do Paulistão pelo Tricolor no ano seguinte. Meses depois, veio a grande surpresa da carreira: o vice-campeonato mundial com a Seleção Brasileira, na França.
Hoje, 14 anos depois, o ex-lateral, que parou também de imitar galinhas em público – brincadeira usada para distrair os colegas de time e sempre mostrada pelas câmeras de TV -, não se considera aposentado e até se incomoda com a pergunta.
- Aposentado, não. Só parei de jogar – explicou Zé Carlos, que, magoado com as críticas na época, agora só faz a imitação dos animais para os amigos mais íntimos.
Nascido em Presidente Bernardes, interior de São Paulo, Zé Carlos se mudou com sua empresa do ramo de construção civil da capital para Presidente Prudente, no início de 2012, e tenta não se desvincular do futebol. Com ajuda de um amigo, criou uma escolinha para jovens em Nova Mutum, no Norte do Mato Grosso, e conversa com a Prefeitura de Prudente sobre a possibilidade de abrir uma filial na cidade. Como jogador, “parou” em 2005, pelo Noroeste.

Entre as inúmeras histórias guardadas, pode se considerar um privilegiado: faz parte do seleto grupo de atletas que jogaram pela Seleção Brasileira em Copas do Mundo. Mesmo que só por uma vez. A história de Zé Carlos desde o anúncio da convocação feita por Zagallo até o dia 7 de julho de 1998, quando substituiu o suspenso Cafu na semifinal contra a Holanda, é digna de roteiro de cinema. Chamado de surpresa no lugar de Flávio Conceição, lesionado, o lateral foi obrigado a adiar o casório. Avisado da convocação pelo lateral-esquerdo Serginho, no São Paulo, pensou que fosse piada do colega.
– A notícia que eu tinha é que o Zagallo ia levar o Flávio para jogar de volante e lateral. Eu sabia que não iria. Só nos bastidores rolava uma história de que o Flávio seria cortado. Íamos entrar de férias no São Paulo durante a Copa e fazíamos um treino recreativo à tarde no CT, que seria o último. De repente, o Serginho gritou: “Zé, tão falando que você acabou de ser convocado.” Não acreditei, mas a notícia correu o CT – relembrou.
Zé Carlos ainda deu mais detalhes daquele dia inesquecível.
– A imprensa chegou em dez minutos, o CT ficou cheio. Pegaram-me no colo… Até me arrastaram para fora do treino. Eu não deveria estar participando para não correr risco de sofrer lesão. Eu não queria sair. Queria continuar jogando. Falei que era só um rachão. Foi muito divertido – completou.
Em meio a tantos craques já consagrados, como Ronaldo, Rivaldo, Roberto Carlos e Cia., Zé Carlos garante que não sentia a pressão. Tranquilo e atencioso nas palavras, ele só mudou o tom em relação às críticas recebidas pela atuação na única chance com a amarelinha, na semifinal. Ainda nas quartas, a sofrida classificação com vitória sobre a Dinamarca, por 3 a 2, terminou com uma notícia preocupante para a torcida: o intocável Cafu estava suspenso com dois cartões amarelos.
Zé Carlos logo imaginou que a vaga seria dele, mas o suspense foi mantido até o dia seguinte, quando o técnico Zagallo o chamou para uma conversa. Sem jogar uma partida oficial desde o dia 13 de maio, pela Copa do Brasil, com o São Paulo, ele culpou a falta de ritmo pela atuação abaixo da média contra a seleção holandesa – se comparada aos bons jogos feitos pelo Tricolor no primeiro semestre de 1998. Ainda assim, ajudou a segurar o empate por 1 a 1 e a classificação sofrida à final, nos pênaltis (4 a 2).
– O problema eram os comentários. “O Zé não foi aquele jogador do São Paulo”, “sentiu a camisa”… Quem tem personalidade não sente. Quem analisa nunca vestiu uma camisa de futebol. É fácil falar. Se você perguntar para qualquer um, jogar uma semifinal de Copa depois de quase 60 dias sem jogar, é complicado – explicou.
As críticas magoaram o ex-jogador, que lembrou com carinho da experiência. Para ele, foi um privilégio ter participado daquele grupo.

Nos treinos do São Paulo, Zé Carlos fazia a alegria dos companheiros, da torcida e até dos repórteres. As imitações de animais eram sua “marca registrada”, e o ex-lateral nunca hesitava em repeti-las, atendendo a pedidos, frente às câmeras. Agora, no entanto, ele evita os “cacarejos”. Mais uma vez incomodado com as críticas, Zé Carlos aposentou a imitação de galinha – agora, restrita aos amigos.
– Às vezes eu até brinco, mas parei um pouco. Eu vi algumas pessoas criticando, principalmente fora do Brasil. Falaram um monte de besteira sobre isso. Tem maldade. Tive que parar um pouco. Você quer fazer o bem, e alguém tenta te colocar para baixo. Tomo mais cuidado. Mas não posso mudar minha conduta pelos outros. Ainda brinco um pouco – afirmou.
0 comentários:
Postar um comentário
Comente aqui